A Europa, enfim, com as cores de Paris


 

Fundado em 12 de agosto de 1970, o Paris Saint-Germain nasceu da fusão entre o Paris FC e o Stade Saint-Germain, com o objetivo de trazer à capital francesa um clube de futebol à altura de sua grandeza cultural e histórica. Ao longo das décadas seguintes, o PSG construiu sua identidade entre altos e baixos, mas também com momentos marcantes, especialmente para os torcedores, que viram nomes brasileiros como Raí - considerado o maior ídolo do clube - e Ronaldinho Gaúcho encantarem o Parc des Princes com seu talento exuberante.


Entretanto, o ponto de inflexão mais emblemático aconteceu em 2011, quando a Qatar Sports Investments (QSI), comandada pelo sheik Nasser Al-Khelaïfi, adquiriu o Paris Saint-Germain. Com essa mudança de direção, iniciou-se um projeto ambicioso, alimentado por investimentos financeiros massivos e o objetivo de colocar o time no topo do futebol mundial.




O impacto foi imediato: clube passou a dominar o cenário nacional com títulos consecutivos da Ligue 1, Copas e Supercopas. Grandes estrelas passaram a vestir a camisa azul e vermelha, como Neymar, Kylian Mbappé e Lionel Messi formando um dos trios ofensivos mais midiáticos da história recente do futebol. Ainda assim, apesar da dinastia na França, a Liga dos Campeões, a principal obsessão, continuava sendo um sonho inalcançável. Ano após ano, o título europeu escapava, muitas vezes de forma dolorosa, reforçando a ideia de que, por mais talento que houvesse de sobra, o espírito coletivo ainda não havia sido plenamente encontrado.




Mas a temporada 2024–25 trouxe uma nova esperança. Apostando na mistura entre juventude promissora e jogadores experientes já consolidados, o PSG montou um elenco forte, equilibrado e dinâmico. Peças como o goleiro italiano Gianluigi Donnarumma, o lateral marroquino Hakimi, o zagueiro brasileiro Marquinhos, o georgiano habilidoso Khvicha Kvaratskhelia, os portugueses Gonçalo Ramos, Nuno Mendes e Vitinha, os franceses Désiré Doué, Ousmane Dembélé e Bradley Barcola entre outros talentos compunham um grupo sólido, e a responsabilidade de dar forma e identidade a esse time estava nas mãos de um dos técnicos mais respeitados do continente, o espanhol Luis Enrique.


Conhecido por seu perfil exigente e intenso, Luis Enrique não apenas comandava, mas transformava. Dentro e fora de campo, ele cobrava de seus jogadores o máximo empenho e comprometimento. Seu estilo de jogo, marcado por posse de bola prolongada, marcação alta e transições rápidas, fez com que o PSG adquirisse um padrão tático admirável. O time se mostrou versátil, capaz de atuar no tradicional 4-3-3, mas também alternar para esquemas como o 4-3-1-2 e o 4-2-3-1, sempre adaptando-se ao adversário e ao contexto do jogo. A ideia era clara: controlar, sufocar, dominar.




E foi exatamente isso que aconteceu em Munique, palco da final da Champions League de 2025. O adversário era a tradicional e tricampeã Internazionale de Milão, mas naquele dia, os italianos pareciam um grupo de crianças contra jogadores profissionais: O Paris Saint-Germain atropelou e goleou por 5x0, com gols de Doué (2x), Hakimi, Kvaratskhelia e Mayulu. Uma atuação irretocável do começo ao fim.


A emoção foi ainda maior com a homenagem preparada pelos torcedores para Luis Enrique. Um bandeirão foi estendido nas arquibancadas da Allianz Arena, trazendo a imagem do treinador ao lado de sua filha Xana, que faleceu em 2019 aos 9 anos de idade, vítima de câncer. Foi um momento de profunda sensibilidade que levou às lágrimas jornalistas e comentaristas ali presentes, mostrando que o laço de humanidade, no sentido completo da palavra, jamais será rompido com o esporte.




Além do título continental, o PSG venceu o Campeonato Francês e a Copa da França, entrando pra seleta lista de times a conquistarem a tríplice coroa europeia. Uma temporada gloriosa que consagrou esse grupo de jogadores na história do clube e realizou o sonho de toda uma geração de torcedores apaixonados. 




Com essa conquista, a equipe parisiense entrou em uma nova era: de amadurecimento, superação e identidade coletiva. O clube que um dia foi idealizado em 1970, que viu lendas brasileiras brilharem em seus gramados, que passou por investimentos bilionários e tantas decepções continentais, finalmente encontrou o seu lugar entre os grandes europeus.


Pedro Frozza




Comentários