"E se...?" : Seleção Brasileira de 1982
Independentemente do momento, é de praxe que o Brasil chegue na Copa do Mundo como um dos principais candidatos ao título, e na edição de 1982 não foi diferente: aquela Seleção encantava a todos que a assistiam e é considerada por muitos como a melhor que já tivemos. Mas o que deu errado?
A fábrica brasileira de craques vivia grande fase nos anos 80. Muitos talentos despontavam no período e o genial técnico Telê Santana teve a famosa "boa dor de cabeça" na hora da convocação. A formação tática do time era um 4-2-3-1: Waldir Peres no gol; Luizinho e Oscar na zaga; Falcão e Cerezo no meio campo; mais avançados, Éder, Zico e Sócrates; o centroavante era Serginho. Outros excelentes jogadores como Roberto Dinamite, Júnior e Edinho ainda faziam parte desse qualificado plantel. Após vencer Inglaterra, França e Alemanha em uma excursão pela Europa, as expectativas não poderiam estar mais altas para o Mundial de 82, realizado na Espanha, ao ritmo de "Voa Canarinho".
No grupo F, o Brasil fez sua estreia num jogo complicado contra a União Soviética e venceu de virada por 2x1, com gols de Sócrates e Éder. Na segunda rodada, novamente vitória brasileira após sair em desvantagem: a Escócia logo abriu a contagem, mas Zico, Oscar, Éder e Falcão marcaram e fecharam o placar de 4x1. No jogo seguinte, goleada em cima da Nova Zelândia por 4x0 com dois gols de Zico, Falcão e Serginho. Com um futebol vistoso e 100% de aproveitamento até então, a Seleção fazia jus ao seu favoritismo no torneio.
Na próxima fase, o Brasil caiu no grupo 3 e faria seu primeiro duelo contra o maior rival: a atual campeã Argentina. No Clássico das Américas, dessa vez realizado em Barcelona, triunfo brasileiro por 3x1 com gols de Zico, Serginho e Júnior, resultado esse que deu a vantagem do empate à Seleção no próximo jogo contra a Itália - que também venceria a Argentina na rodada seguinte.
Os italianos estavam desacreditados. Na primeira fase, empataram os três jogos e classificaram-se na segunda colocação, em um grupo com Polônia, Camarões e Peru. Além disso, um esquema de manipulação de resultados no campeonato nacional havia caído como uma bomba sobre a Azzurra. Mas foi nesse contexto que surgiu Paolo Rossi, principal nome do ataque da Itália e que estava zerado na competição.
Num eletrizante jogo, Rossi brilhou como nunca, anotou 3 gols e eliminou o Brasil por 3x2. Sócrates e Falcão tentaram, mas não puderam evitar a tragédia. De forma precoce e inesperada, a Seleção Canarinho dava adeus à Copa do Mundo e adiava o sonho do tetracampeonato.
Muito se atribui a essa derrota, a maioria referente ao "extra jogo". No caso, que o Brasil subestimou o adversário e, por isso, não estava concentrado o suficiente. Isso pode até ter um fundo de verdade, mas é fato que a Itália teve todos os méritos ao montar uma defesa sólida na partida, conseguindo neutralizar o meio de campo verde e amarelo. O principal ponto fraco apontado no esquema de Telê Santana era a ausência de um ponta direita: Sócrates e Zico precisavam fazer essa função entre si e contavam com as subidas do lateral Leandro, o que acabava por defasar ainda mais o setor defensivo. A escola italiana de zagueiros e líberos sempre foi uma das melhores - senão a melhor - e mostrou isso mais uma vez ao anular um time tão ofensivo igual àquele Brasil.
A Azzurra acabou se sagrando a grande campeã do mundo e o carrasco Paolo Rossi recebeu a Bola de Ouro naquele mesmo ano. Quanto ao Brasil, restaram apenas as lágrimas e a lembrança amarga de quem assistiu a uma das melhores seleções, que era ouro, mas não brilhou como poderia.
Pedro Frozza
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